segunda-feira, 28 de maio de 2012

Quanto custa uma Passagem para o Inferno?


Jornal Diário de S. Paulo

A droga é amante da violência. E elas não aceitam discutir relação. Aprisionam em um espiral de medo e desespero, não raro terminando em morte, quem busca o flerte. Em pouco tempo, usuários de drogas e seus familiares se tornam reféns no círculo de destruição. Não há amor que dure diante da droga.
Nem entre mãe e filho. Bem o sabe a doméstica I.S., 42 anos, que acorrentou o filho de 13 no sofá de casa para evitar que ele consumisse crack. Ela morava na região sul de São José e tentava tirar o filho do vício desde os 10 anos. Não conseguiu. A saída foi acorrentá-lo para evitar a morte do menino. “Se aquilo não terminasse, a única solução era matar meu filho e depois me matar. Não havia mais vida”, disse ela, que mandou o jovem para morar com o pai, no Piauí em 2011 para vê-lo longe do tráfico.


Tragédia
Duas facadas no peito do filho. Assim terminou a relação do rapaz de 27 anos com sua mãe. Ela fugia de uma tentativa de estupro dele, que era viciado em crack, quando o rapaz pegou a faca e a ameaçou.
Eles brigaram e, com duas estocadas no peito, a mãe matou o filho. A família morava no Motorama, na zona leste de São José, e o crime ocorreu em fevereiro do ano passado.
Há medida para o tamanho da destruição na vida dessas famílias? E na de centenas de usuários de drogas que ganham as ruas, diariamente, nas cidades do Vale? A cada tragada de crack, a ligação familiar se rompe um pouco mais até não existir vínculo algum. Os dependentes e seus familiares vivem à mercê do crime.
Ilusão
“Minha vida era uma mentira. Passei mais de 20 anos respondendo as vontades da carne e quando me dei conta, minha vida já estava por um triz". A frase é do ajudante geral Anderson Aparecido Galvão da Silva, 34 anos. Morador do Cidade de Deus, em Taubaté, Silva é mais um refém da droga.
Aos 12 anos, começou na cerveja e depois foi para a pinga. Precisava de coisas fortes. Com 17 anos, já não tinha controle de si mesmo. Por meio de ‘amigos’ experimentou maconha, cocaína e crack. “Um abismo puxa o outro. Era prazeroso, causa um monte de sensação que não sentia quando estava sóbrio. Sempre achei que eu era mais forte do que eles. Até que consegui me livrar do crack, mas continuem com a bebida.”
A vida por um triz
Com medo de ficar endividado e perder a vida para o tráfico, ele passou a beber pinga. Após 21 anos entregue ao vício, Silva teve em 2011 uma ameaça de AVC (Acidente Vascular Cerebral). Com 48 quilos e sem força  para andar, chegou a perder os movimentos da perna e foi diagnosticado com  sífilis, hepatite B, hepatite alcoólico, entre outras doenças. Foi internado as pressas e o médico lhe deu  apenas quatro meses de vida.
Drama
“O médico deu quatro meses de vida e não deu nenhuma chance de sair da cama”, disse.  Há um ano, Silva está internado em uma clínica de Taubaté, onde é  diretor interno. A cada 15 dias vai para casa visitar a mãe. Ele ainda faz curso de teologia. Sonha se tornar pastor e  ter uma família. E se manter longe da droga.
Largou a família para viver dentro do esgoto Entre ratos e baratas, o morador de rua A.S.S, 41 anos, sustenta o vício de duas décadas. A tubulação do Anel Viário, na região central de São José, é onde consome maconha, cocaína ou crack. Sem dinheiro, no entanto, precisa fazer malabarismo para pagar os traficantes e continuar vivo. Comete pequenos delitos pelas ruas da cidade ou furta fio de cobre para vender. Assim, garante a sobrevivência no perigoso submundo das drogas. Vindo do Piauí, há 20 anos, onde deixou mulher e dois filhos, A. pretendia voltar depois de melhorar de vida. Não deu tempo. Ele caiu na farra e virou mais um dos refém das drogas. Nunca mais mandou notícia à ex-esposa.
Vício da ‘pedra’ pode levar o viciado à morte
A compulsão é a diferença do crack para outras drogas. Quem experimenta sente uma sensação de prazer imediata e rápida, cujo efeito dura menos do que cinco minutos. Como busca a próxima dose em pouco tempo, entrando num círculo vicioso, o fumante multiplica a chance de dependência. “O efeito do crack chega em segundos ao cérebro e provoca uma sensação de prazer intensa, mas que acaba rápido. Assim, a pessoa busca a droga cada vez mais”, disse a psicóloga Patricia Minari.
Tráfico de São José lança a cocaína ‘Osama Bin Laden’ na zona sul
A Polícia Civil apreendeu pinos de cocaína com a foto do terrorista Osama Bin Laden, na manhã de ontem, no Campo dos Alemães, na zona sul de São José. A apreensão foi feita durante uma megaoperação em todo o Vale para cumprimento de mandados de busca e apreensão.
Os policiais civis suspeitaram da atitude de J. A. B. S, 17 anos, e decidiram revistá-lo. Com o adolescente foram encontradas oito pedras de crack e três pinos de cocaína, com as imagens do terrorista. Os adesivos são como uma marca para atrair consumidores. “É como um marketing. Os pinos têm essa imagem para valorizar o vendedor. Quem vai comprar, identifica de qual boca é a droga”, disse o policial Fabiano de Paula Gorgulho. O adolescente foi apreendido e está à disposição da Vara da Infância e Juventude.
O adolescente não foi o único menor de idade apreendido durante a operação. Foram 127 pessoas presas, incluindo 12 menores de 18 anos. Só em São José foram sete adolescentes recolhidos. Além dos menores, foram 96 foragidos da Justiça recapturados e 19 pessoas presas em flagrante

Alexandre Alves, João Paulo Sardinha e Michelle Mendes

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