quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Fiscalização Criativa - Por Ronaldo Laranjeira


Ronaldo Laranjeira, do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Políticas do Álcool e Outras Drogas - INPAD, cita EUA como bom exemplo

Lá a fiscalização manda um adolescente tentar comprar a bebida; se ele consegue, fiscal vai em seguida aplicar multa

Folha de São Paulo - DE SÃO PAULO

Na opinião de Ronaldo Laranjeira, professor da Unifesp e coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Políticas do Álcool e Outras Drogas - INPAD, a fiscalização precisa ser criativa para funcionar.
"Se, nos próximos meses, não tivermos nenhum bar fechado, é sinal de que a lei não pegou", diz. Veja os principais trechos da entrevista.

Folha - O que o senhor acha da nova legislação?
Ronaldo Laranjeira - Defendo essa fiscalização. Uma pesquisa que fizemos há cinco anos mostrou que 90% dos adolescentes que tentam comprar bebidas alcoólicas conseguem sem dificuldade.
Nos EUA, a fiscalização manda um adolescente tentar comprar a bebida. Se ele consegue, logo depois vai o fiscal e aplica a multa. São Paulo vai ter que inovar na fiscalização, ser criativo.


Mas só fiscalizar é suficiente?
A informação também é importante. A propaganda relata o álcool como um "pão líquido". Toda a estratégia da indústria é banalizar o consumo, associá-lo com o prazer, com a festa. É isso que se fazia com o cigarro antes. No médio e longo prazo, espero que a propaganda de cerveja seja banida, como acontece nos países desenvolvidos.
O governo de SP pode fazer mais na parte educacional, achar um jeito criativo de se contrapor ao bombardeio que as crianças e adolescentes recebem da publicidade. Inserir na grade curricular informações sobre os efeitos do álcool no corpo.

Há pais que acham que não tem problema se o filho menor beber uma única cerveja, em casa. O senhor concorda?
A bebida alcoólica é ilegal para menores de idade. É assim porque não há dose segura para um cérebro em desenvolvimento. Ele tem que ser preservado de qualquer tipo de droga. Além disso, um adolescente não toma só uma cervejinha. A tendência é que ele tenha picos de consumo. Quando o pai tolera o consumo, o adolescente tem mais chance de desenvolver problemas de dependência de álcool. Ele não deve ser proibido só porque é ilegal, mas porque faz mal.

Como convencê-lo disso?
Uma das formas é justamente dificultar o acesso. E para evitar o acesso precisa fiscalizar. É como beber e dirigir. As pessoas sabem que é errado, mas a única forma de evitar que elas façam é fiscalizando. O adolescente sabe que é proibido o consumo, mas eles são desafiadores, faz parte dessa fase.

Fonte - UNIAD

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