Já não se pode dizer que o crack é consumido apenas pela população carente. O perfil do usuário mudou e está ainda mais abrangente.
Alerta! Esse é o estado que estamos! Num país onde um terço da população bebe de forma abusiva, segundo dados recentes da Secretaria Nacional Antidrogas (Senad). O grande problema da estimativa é que o álcool pode se tornar a porta de entrada para substâncias mais pesadas. Porém, com o alastramento e a facilidade em se conseguir o crack, a rota de consumo se modificou e muitos usuários já pulam etapas.
"Há, sim, pessoas que se atrevem a experimentar de cara o crack, apesar de o caminho geralmente começar na bebida. Essa precipitação tem a ver com a disponibilidade impressionante dessa droga", afirma Carlos Salgado, psiquiatra e presidente da Abead. Cecília Mota, psicóloga da Unifesp e coordenadora do projeto de Refugiados Urbanos, que atende meninos de rua no centro de São Paulo, acredita que a sequência de experimentação de drogas é muito pessoal. "Tem a ver com o contexto que a pessoa está inserida. Na rua, por exemplo, a cola se faz muito presente. Hoje o crack também. Mas nem todo mundo gosta. Há meninos que experimentaram e não tiveram afinidade", ressalta a especialista. Segundo Camila Magalhães Silveira, psiquiatra do Hospital das Clínicas em São Paulo e coordenadora do Cisa , aponta o estudo realizado pelo pesquisador James Antony da Universidade de Michigan, Estados Unidos, como a mais aceita atualmente. "Indivíduos que fazem uso de álcool têm três vezes mais chances de consumir maconha. A partir daí a probabilidade de utilizar cocaína é 11 vezes superior em relação a quem não fuma maconha. Quanto ao crack, não há mensuração. Mas podemos dizer, pela observação, que passar para a próxima etapa tem muito a ver com a renda do usuário", diz a psiquiatra. "Como a cocaína é uma droga cara, mesmo o consumidor mais abastado e muito dependente acaba se rendendo ao crack", completa.
A questão é que com um efeito de apenas oito minutos, mas muito mais estimulante que a cocaína, o crack gera um círculo vicioso com a repetição do uso incontrolado.
"É uma ciranda, na medida em que a curta duração e o preço baixo induzem a mais uma dose sempre", explica Salgado. De acordo com o médico, a abrangência da droga chegou a níveis tão altos que definir apenas um perfil de usuário tornou-se tarefa impossível. Antes formado por pessoas de baixo poder aquisitivo, socialmente desestruturadas, hoje a droga chegou à todas as classes. "Embora a grande massa continue sendo de jovens em situações de vulnerabilidade, já atendo técnicos de enfermagem , colegas de profissão. O perfil, sem dúvida, está se alargando", afirma o psiquiatra. Um estudo em fase final, conta Salgado, traçará quem é o consumidor de crack no Brasil.
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